sexta-feira, 13 de maio de 2011

“Camêlo assado!” Ismália num grito agudo, doído. ”É tão bom quanto dromedário, mas rende mais porque tem duas corcovas!” Como se assustaram diante da pequena, encolheram-se os velhos num recuo tremido, um por cima do outro, sujos da terra. E porque estava quase nua aos farrapos de filó, meias esticadas até os joelhos, num espaço cheio de farpas, Clara notou petrificada que as mudas precisavam respirar. ”O que acha?” perguntou o bêbado de camisa marrom. “Sinceramente, eu acho que cabe a cada um comer ou não comer aquilo que não for bastante casto” - a resposta. Os outros três cavalheiros, ela imaginou que estivessem com frio. A mesa foi posta onde a sombra não incomoda, e então a atriz se serviu de joelhos. Um riso de ver o que tinham através das bolinhas de gude com as mãos atadas, mas estendidas, como as de sedentos levando uma cabaça vazia.Ismália repetia dentro “Deo gratias”. Não ousava se mexer, nem gritar. O irmão, de longe, descobria o horror da fome. Tudo era permitido onde crescia a relva. “Como assim?” a lua se perguntava. “Que estavam fazendo?” Estavam todos muito famintos. Ele trazia pitangas no bolso. Ofereceu uma delas a si mesmo. Uma cereja ou três gemas são apenas duas imagens, pensou. Dizendo isso, cuspiu o caroço sobre as meias que fantasiaram o queixo pontiagudo. Converteu-se em máquina de descaroçar ali no terreiro, esperando, enquanto os bichos, tão pequeninos, estavam ainda com muita fome.

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