segunda-feira, 8 de setembro de 2008

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O bibliotecário

(Giuseppe Arcimboldo, 1566)

Wonderland Post Modern




Coloca uma palavra

no vale da minha nudez

e planta florestas de ambos os lados,

para que a minha boca

fique toda à sombra.



Ingeborg Bachmann

(1926-1973)

(in «O Tempo Aprazado»Tradução de Judite Berkemeier e João Barrento)



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Mad Hatter


-Podia me dizer , por favor, qual é o caminho para sair daqui?
-Isso depende muito do lugar para onde voce quer ir, disse o gato
- Não me importa muito onde...disse Alice
- Nesse caso não importa por onde você vá, disse o gato.
(Lewis Carrol)



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The Queen of Hearts


Dandismo e decadência


Dorian Gray

Minha pele se desmonta e não me obedece
fico velho a cada dia, invariavelmente.
Meu sorriso se desbota porque as rugas vieram
e tomam-me, a mim e ao meu viço, logo aos 23 anos.

Os bêbados que encontro, e que vem ter comigo
e as prostitutas, maquiladas de um cheiro sincero,
são personagens de um teatro objeto
Restará futuro como sonho imenso?




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O mundo mágico de Oz




A giganta
No tempo em que a vida e com verve que espanta,
Sabia conceber o pródigo e o monstruoso,
Teria amado estar junto a jovem giganta,
Como aos pés de rainha um gato voluptuoso.
*
Teria amado ver a florescente dama
Livremente crescer em seu terrível jogo;
Figurar-lhe no peito uma sombria chama
A esta umidez brumal dos seus olhos de fogo;
*
Percorrer devagar os seus flancos vermelhos;
A vertente subir dos seus enormes joelhos,
E às vezes, ao verão, na hora em que o sol exangue
*
Faz que ela se espreguice através da campina,
Adormecer à sombra do seu seio, langue,
Como lugarejo amenno ao sopé de uma colina.
(Charles Baudelaire)
(Obra de Andy Warhol)

"A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre."
(Oscar Wilde)

domingo, 10 de agosto de 2008



na corda bamba entre a comédia e o desespero

D4

A primeira regra é: você não fala.
A segunda regra é: se alguém grita "Pára!", você obedece.
Terceira regra: apenas dois juntos.
Quarta regra: um de cada vez.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Delicadezas do mundo


"Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas é de poesia que estão falando."

(Manoel de Barros)



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(Salammbô, Alphonse Mucha)


"Porias o universo inteiro em teu bordel,
Mulher impura! O tédio é que te faz cruel.
Para treinares os dentes nesse jogo singular,
terás a cada dia um coração a devorar..."
...

"Tem sua beleza que lhe vem do Mal, sempre desprovida de espiritualidade, mas por vezes matizada de uma fadiga que simula a melancolia. Ela dirige o olhar ao horizonte, como animais de presa, mesma exaltação, mesma distração indolente e também, às vezes, mesma fixidez de atenção. Espécie de boêmia errante nos confins de uma sociedade regular, a trivialidade de sua vida, que é uma vida de astúcia e combate, vem à luz fatalmente através de seu invólucro majestoso."
(Charles Baudalaire)



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C'est âme que son âme demande...
qui s'attache à elle avec tant de
force et qui souffre avec tant de
bonheur son étreinte, que rien ne
puisse plus les séparer...

"Sua alma precisa de outra alma... que ela se ligue com tanta força e que consinta o seu abraço com tanta felicidade que ninguém mais as possa separar..."

(Jules Simon)
...
...
Me livrar da angústia e perder a mim mesma...

Os mortos de sobrecasaca

Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velhos de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme roeu as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas.

Carlos Drummond de Andrade, 1963


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segunda-feira, 21 de julho de 2008

o chato sem fim





PARAÍSO PERDIDO

Outro, não eu, que desespero, ao cabo
De, em pedrarias de arte e versos de ouro,
Ter dissipado todo o meu tesouro,
Como os florins e as jóias de um nababo;

Outro, não eu, que para o chão desabo
Esquecendo-te as culpas e o desdouro,
E a teus pés de marfim, como o rei mouro
Em torrentes de lágrimas acabo;

Outro conspurca-te a beleza augusta,
Cujo anseio de posse ainda me custa
Como um verme faminto andar de rastros.

E mais deploro este meu sonho falso
Ao recordar que andei no teu encalço
Pelo caminho rútilo dos astros!

B. Lopes, Helenos (1901)



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terça-feira, 15 de julho de 2008




Taça de Coral

Lícias, pastor - enquanto o sol recebe,
Mugindo, o manso armento e ao largo espraia.
Em sede abrasa, qual de amor por Febe,
- Sede também, sede maior, desmaia.

Mas aplacar-lhe vem piedosa Naia
A sede d'água: entre vinhedo e sebe
Corre uma linfa, e ele no seu de faia
De ao pé do Alfeu tarro escultado bebe.

Bebe, e a golpe e mais golpe: - "Quer ventura
(Suspira e diz) que eu mate uma ânsia louca,
E outra fique a penar, zagala ingrata!

Outra que mais me aflige e me tortura,
E não em vaso assim, mas de uma boca
Na taça de coral é que se mata."

(Alberto de Oliveira)


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O elefante

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos moveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
e é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.
Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajude
me seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há na cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
e as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,

(Carlos Drummond de Andrade)


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segunda-feira, 7 de julho de 2008

Anorgasmia


Ainda ontem, fui atraída pela capa de uma revista que estampava uma linda e elegante celebridade norte-americana com dois seios siliconizados sob a camiseta branca. Depois de sair do transe hipnótico ao qual seu olhar mortífero havia me submetido, tentei ler as manchetes do que viria adiante, mas o nome da revista, escrito em um vermelho metálico vibrava tanto, que eu passei mais um tempinho brincando de movimentar a revista na luz, a fim de jogar com aquele efeito. Logo embaixo daquelas letras divertidas, eis que me deparo com a seguinte chamada: "Orgasmo, garanta já o seu!!!" Parei ali e fiquei um tempinho pensando, não sabia que já estavam vendendo orgasmos no mercado... Corri as páginas até o editorial, e lá estava uma bonequinha de plástico nua deitada de bruços, e mais garantias: "... Se for o caso, prolongue". Fui então, curiosa, até a página 74, e ressentido foi o meu desapontamento ao confirmar mais umas dessas chatas reportagens com entrevistas curtas a sexólogas histéricas. Broxante. Por um momento imaginei orgasmos em compota nas prateleiras, em vez de orientações previsíveis. Terapia em grupo, auto-conhecimento, com indicações a determinadíssimos especialistas, livros, páginas eletrônicas, filmes e brinquedinhos eróticos... A matéria vendia tudo, menos orgasmo garantido. Fechei a revista e voltei para a capa. Passei mais uns segundos admirando a sedutora atriz e as letras do título da revista, e voltei finalmente às outras chamadas, dessa vez com a motivação de uma lesma frígida. Mas o mal-estar passou logo que li a outra manchete: "As novas coleções - 363 peças que vale a pena comprar!!" Com o perdão da má-palavra, que besta consumidora da tal revisteca poderia comprar 365 peças de uma vez?! Como se não bastasse, o preço de cada uma delas era simplesmente pornográfico! Ofereciam camiseta de malha por 320 reais, botas de 1.270, óculos de 440, sandálias, 893, mocassim por 1.167, macaquinho jeans, 820, 1.200, suéter por 1.180 e vestidinho, 1.900, meia-calça, 547, lenço de 250... e por aí continuava até dar as benditas 365 peças. Como se vê, temos a opção de comprar uma revista, pela bagatela simplória de cinco reais, que diz com o que e como devem gastar o dinheiro que, na verdade, suas leitoras não tem. É claro que tudo naquela publicação conduzia a um mundo fantástico de ofertas inatingíveis, como as dicas da maior maquiadora do mundo e coisas do gênero. Como ainda acredito um tiquinho na humanidade, preferi imaginar que nenhuma mulher, depois de ler a revista, corresse para a custosa terapia de grupo indicada a fim de estimular os prazeres do sexo (e o mercado da simulação). Ou então, que desejasse as três centenas de roupas e sapatos em oferta, de uma só vez. Falando em desejo, as consumistas à beira de um piripaque, se acharem que vale a pena um terço daqueles produtos, terão que desembolsar 50 mil, no mínimo, até a próxima estação. E provavelmente vão continuar sem orgasmos. Cá pra nós, é por isso que eu digo, se orgasmo vendesse no mercado, não se gastaria tanto, mentira?!


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Poesia imprópria

Cantei com os pássaros quando fui grito,
Gritei com as almas quando fui morte,
Sussurrei fantasmas quando fui medo,
Declamei aos vultos quando fui relance.

Dancei com as árvores ao vento.
Sujei, relinchei e bradei, animal.
Sem saber onde fui pararum dia, acordei não-eu,
Sem saber o que era, escrevi ao poeta;
Mas sem saber quem eu era,
assinei um poema não-meu.

(Gabriel da Matta, 2007)



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Heisei Esthiticism








(Obras de Takato Yamamoto)



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山本タカト
Yamamoto Takato
1960年生まれ。東京造形大学絵画科卒業。
作品集「緋色のマニエラ」(トレヴィル)。TIS 国際浮世絵学会会員。



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