quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Miragem

Vi uma luz que brilhava tanto,
vinte mil léguas descia,
num espelho que ofuscava
a minha tarde vazia,
tão cheia de tons imprecisos...

Os olhos afogados no mar
que não era de leite, só era branco,
não viram mais nada além do branco.
No abraço de luz, do primeiro encontro
toda cor se dissolveu.
E pensava, seria fácil e até cômico
não sentir que eu era meu.

Quase tudo eu faria, quase,
por uma vida de contemplação,
porque sou um animal idólatra.
Doze rimas eu faria,
fizesse voltar cada uma um dia,
mas, se o tempo é sempre igual,
posso costurar ele de dentro pra fora.

Despede, clarão infeliz, de tudo que vive aqui,
só, com a minha cicatriz, devo achar o que perdi.
Porque passo e torno a ficar, sei quem sou;
não preciso de nome, apenas recordar de uma cor.
Que é certo, vou me curar numa viagem,
tão logo do brilho intenso dessa miragem.


(Aline Pereira)

Nenhum comentário: