terça-feira, 4 de maio de 2010



O Muro

É um velho paredão, todo gretado,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensangüentado
E, num pouco de musgo em cada fenda.

Serve há muito de encerro a uma vivenda;
Protegê-la e guardá-la é seu cuidado;
Talvez consigo esta missão compreenda,
Sempre em seu posto, firme e alevantado.

Horas mortas, a lua o véu desata,
E em cheio brilha; a solidão estrela
Toda de um vago cintilar de prata;

E o velho muro, alta a parede nua,
Olha em redor, espreita a sombra, e vela,
Entre os beijos e lágrimas da lua.

(Alberto de Oliveira)


Pedro Marques sugere que o muro pode representar um patriarca que zela pela família. Segundo o estudioso, enquanto todos dormem ou cuidam de seus interesses, o velho (muro), com a experiência acumulada nas rugas (rachaduras), vigia a morada. (Aline Pereira)

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