segunda-feira, 7 de julho de 2008


Os Cegos

Contempla-os, ó minha alma; eles são pavorosos!
Iguais aos manequins, grotescos, singulares,
Sonâmbulos, talvez, terríveis se os olhares,
Lançando não sei de onde os globos tenebrosos.

Suas pupilas, onde ardeu a luz divina,
Como se olhassem à distância, estão fincadas
No céu; e não se vê jamais sobre as calçadas
Se um deles a sonhar sua cabeça inclina.

Cruzam assim o eterno escuro que os invade,
Esse irmão do silêncio infinito. Ó cidade!
Enquanto em torno cantas, ris e uivas ao léu!

Nos braços de um prazer que tangencia o espasmo,
Olha! também me arrasto! e, mais do que eles eles pasmo,
Digo: que buscam estes cegos ver no Céu?


Charles Baudelaire
(Trad.: Ivan Junqueira)
(Tela de Pieter Brueghel, A Parábola dos cegos)*



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